O óbvio precisa ser dito: vivemos em uma era de transformações rápidas e contínuas. A tecnologia avança a passos largos, as tendências de mercado se atualizam com frequência e as expectativas das pessoas mudam constantemente. Nesse contexto, inovar se tornou uma necessidade imperativa. Não podemos mais pensar de forma linear sobre o futuro; o mundo nos desafia a sermos ágeis, adaptáveis e, sobretudo, humanos em nossas abordagens.
Justamente por isso, a verdadeira inovação não pode ser apenas técnica, ela precisa ser profundamente humana. Aqui entra a empatia. A empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, de compreender suas emoções, perspectivas e desafios. No contexto da inovação, a empatia é a chave para criar soluções que realmente impactem e transformem a vida das pessoas.
O Design Thinking, enquanto abordagem criativa, entra justamente com este papel: colocar as pessoas no centro do processo. Esse método iterativo abrange cinco fases: empatia, definição, ideação, prototipagem e teste. Por mais processual que pareça, Design Thinking é também sobre uma forma de pensar: olhar para o problema de uma forma humana e buscar formas criativas de resolver esta dor, seja ela qual for.
Por isso, liderar com empatia no processo de inovação significa mais do que apenas ouvir; trata-se de entender profundamente o que motiva as pessoas, o que elas valorizam e como podemos contribuir para o coletivo. É um ato de convergência, onde buscamos unir diferentes perspectivas e interesses em prol de um objetivo comum. A inovação movida pela empatia visa ao bem coletivo, porque quando a Comunidade como um todo ganha, o indivíduo também ganha.
Um exemplo prático de como a empatia e a inovação se encontram pode ser visto em eventos como o Startup Weekend, um evento educacional criativo imersivo e colaborativo que teve recentemente sua 13ª edição em Caxias do Sul, nos dias 25, 26 e 27 de julho de 2024. Esse evento, que tem como foco a metodologia ativa de educação empreendedora, vai muito além disso — ele é sobre pessoas, sobre suas transformações e sobre o impacto positivo que podemos causar em suas vidas.
Como líder desta edição, separei 3 aprendizados práticos que vivenciei nesta jornada e que compartilho como pilares de uma inovação que consiste em liderar de forma empática:
1. O espaço precisa ser para e de todos:
O time precisa ser diverso, inclusivo e dinâmico para que diferentes habilidades, visões e experiências sejam agregadas ao processo de inovação. Neste grupo, liderei um time com 13 pessoas. Neste time tivemos 61% de mulheres e 39% de homens organizadores, sendo 5 da área de negócios, 5 de tecnologia e 3 de criatividade, 50% do total são de empreendedores em diferentes áreas e expertises. O que une todas estas diferentes pessoas? O mesmo valor: a educação empreendedora inovadora.
Para melhor aproveitar este potencial criativo e inovador, desde o início tivemos dinâmicas de brainstorming, de cocriação das atividades e de escuta ativa, buscando sempre orientar os trabalhos para a pessoa mais adequada ao papel. Além disso, dinâmicas orientadas para processos ágeis também foram aplicadas, otimizando o potencial de criação de um time considerado enxuto para criar uma jornada de 8 eventos comunitários no período de 1 ano de trabalho.
Um depoimento recebido ilustra bem esse ponto: "Foi muito bacana poder trabalhar com tantos perfis diferentes, ideias diferentes, uma experiência incrível e que me despertou uma vontade empreendedora."
2. Microgerenciar é coisa do passado, a autonomia é essencial:
Estruturalmente, a liderança decisiva em momentos cruciais é essencial para que a inovação aconteça, mas isso não significa espaços hierarquizados ou fechados. O espaço de liderança foi compartilhado, em que tivemos líderes de "pastas" (marketing, infraestrutura, receptivo, patrocínios, mentores e jurados), ou seja, pessoas responsáveis por um processo, com autonomia de trabalho e para o desenvolvimento de suas atividades.
O único critério era seguir em direção ao cumprimento das metas estabelecidas pelo time, em que as ações individuais se uniam aos objetivos do coletivo. Isto tornou o trabalho mais leve e fluido, permitindo que cada um cuidasse com dedicação de uma parte do processo e pedisse suporte quando necessário.
Funcionou tão bem que, durante um dos eventos que realizamos, ouvi a pergunta sobre qual seria meu papel na equipe de trabalho neste ano. Quando mencionei que era líder, ouvi um pedido de desculpas, o que rapidamente informei que não era preciso, afinal "o time está tão bem organizado que eu não precisei participar do processo ao qual você teve contato e por isso não sabe que estou no bastidor". Uma vitória de um time autônomo! O processo fluiu tão bem que não foi preciso interferir nas decisões operacionais.
3. Feedbacks constantes e ativos:
Frequência de reuniões e trocas foram essenciais para o desenvolvimento de um trabalho sempre alinhado e orientado pelos objetivos do time. As constantes trocas e alinhamentos permitiam que o time sempre andasse para o mesmo objetivo, resolvendo de forma criativa e rápida problemas enfrentados. Um exemplo prático: o espaço para o evento era grande e estávamos preocupados com a comunicação interna. Como faríamos sem sair gritando pelo espaço? A solução veio do time: uso de Walk Talkie (através de um aplicativo gratuito) para melhorar a comunicação interna. Simples. Efetivo.
A jornada, focada em desenvolver uma experiência imersiva em inovação para pessoas que não atuam na área foi efetiva: 91,5% das pessoas eram participantes de primeira viagem, que deixaram feedback como "O evento foi extremamente intenso em muitos sentidos. Mas queria ressaltar que a animação dos organizadores era contagiante, deixando uma vontade de continuar e ver o que mais vinha pela frente. Foi um evento de muitos aprendizados e de muitas emoções, mas muito divertido também."
Esse testemunho ressalta a importância de eventos como o Startup Weekend, que, embora focados em inovação e empreendedorismo, têm um impacto profundo nas vidas das pessoas. É a empatia em ação, criando espaços onde as pessoas podem se transformar, descobrir seu potencial e, por sua vez, contribuir para a inovação em suas comunidades.
Afinal, a inovação não é apenas sobre o novo; é sobre o que é significativo para as pessoas. E quando lideramos com empatia, garantimos que nossa inovação não só atenda às necessidades de hoje, mas também esteja preparada para as mudanças de amanhã.
Mariéli Londero
Gestora de Projetos no escritório RTJP. Bacharela laureada em Relações Internacionais, possui MBA em Gestão Comercial e Marketing Digital, integra o Núcleo Facilitador da Governança Bah3 do Ecossistema de Caxias do Sul. Co-liderou o World Creativity Day 2024 e organiza o Hackathon Nasa Space Apps Challenge 2024. Líder do Startup Weekend 2024, também é membro da Frente Parlamentar para Inovação, Startups e Proteção de Dados de Caxias do Sul/RS e integra a Rede de Apoio do INOVA RS Serra Gaúcha.
Publicado em 27/08/2024 às 19:05