18/03/2022

Cookies, mas não aqueles de comer

Conhecido por muitos apenas por causa daquele aviso que incomoda toda vez que você abre um site, os cookies são os queridinhos do marketing digital e também das grandes empresas de tecnologia, mas acabam passando despercebidos por todos nós.
 
O que muitos não sabem é que além de dar nome ao biscoito, os cookies também servem como grandes fontes de dados que são adquiridos a partir do monitoramento da navegação no meio digital. Eles são ferramentas capazes de captar quantas vezes o usuário acessou determinado site, o que ele deixou pendente no carrinho de compras, dados de login, quais os termos mais pesquisados e por aí vai.
 
Muitas de suas funcionalidades foram criadas para melhorar a experiência do usuário ao se conectar à internet, como por exemplo, para sugerir termos ao preencher um formulário ou para não precisar inserir a senha toda vez que usamos uma plataforma.
 
Acontece que, por trás da comodidade fajuta que eles prometem, os cookies podem ser grandes vilões da privacidade. Não sejamos ingênuos em pensar que somente a partir do aceite para a sua utilização é que eles começam a agir, mas partindo do pressuposto de que isso seja verdade, com esse clique os cookies são autorizados a mapear relativamente toda a sua navegação. Assim eles conseguem traçar um perfil específico de usuário prontinho para que as empresas adquiram esses dados, principalmente para venda de produtos online, para geração de lucro com anúncios e propagandas ou para outras coisas não tão legítimas.
 
Vai dizer que você nunca se deparou com diversos anúncios em sites depois de ter procurado aquele produto para comprar? Pois é, boa parte disso é obra dos cookies.
Essas ferramentas estão sendo cada vez mais utilizadas já que a internet proporcionou a criação de diversas novas formas de se relacionar e então facilitou com que a captação de dados se tornasse corriqueira e, principalmente, muito barata, com índices de conversão em lucro muito mais rápidos. A facilidade do meio digital certamente é o que atrai por ser fácil extrair os dados, refiná-los e direcioná-los para os fins que quiser.
 
Já em 2006, Clive Humby, responsável pela criação do programa de fidelidade ClubCard da Tesco, dizia que “os dados são o novo petróleo”.  Por mais que o acesso à internet seja “gratuito” e “ilimitado”, nós pagamos pelo conteúdo com nossos dados, muitas vezes, inconscientemente. Não é à toa que a Era da Informação tem esse nome.
 
Por outro lado, as janelinhas que poluíram as nossas telas nos últimos anos são reflexos de regulamentações do direito à proteção de dados tanto internacionais como nacionais, marcadas, no Brasil, principalmente pela LGPD. Entre seus princípios está o da transparência, segundo o qual o provedor deveria informar com clareza quais dados são coletados e como estão sendo tratados, por isso o desespero em tentar “informar” a utilização dos cookies toda a vez que você acessa um site na internet.
 
Mas como bem sabemos, muitos destes avisos limitam-se ao “aceitar” ou “recusar” e até se sobrepõem ao conteúdo da página acessada, não deixando escolha para o usuário simplesmente não assinalar nada ou escolher pontualmente o que quer autorizar. Isso, por sinal, é um grande problema da limitação do consentimento e, consequentemente, da proteção de dados.
 
O Facebook e o Google, por exemplo, já foram multados pela Agência Francesa de Proteção de Dados em 60 milhões de euros e 150 milhões de euros, respectivamente, por vício de consentimento, uma vez que não permitiam rejeitar os cookies com a mesma facilidade de aceitá-los.
 
A polêmica não é nova e a intenção de extinção dos cookies já é uma realidade. Em razão disso, o Google inventou o FLoC que, mesmo antes de nascer, já foi extinto. A proposta era que as empresas poderiam enviar anúncios a partir de blocos de clientes em potencial de forma não individualizada, prometendo mais privacidade aos usuários. Em seu lugar nasceu o “Topics”, que está em fase de implementação, sob a justificativa de anonimizar ainda mais as informações dos usuários, separando a navegação a partir de tópicos como “Fitness”, “Automóveis”, “Livros” e assim por diante.
 
A Apple também já está explorando a ferramenta denominada Identifier for Advertisers (IDFA) que, em tese, serviria para rastrear e identificar um perfil de usuário sem revelar informações pessoais sobre ele, mas que também pode estar com os dias contados.
 
Levando tudo isso em consideração, o que se observa hoje é uma tendência do consumidor e do usuário estarem mais conscientes sobre a importância de proteger seus dados, principalmente no meio digital. Essas práticas acabam impulsionando a cultura de proteção de dados a alcançar outros patamares, forçando as empresas e governos a se adequarem e respeitarem esse direito fundamental.
 
Por isso, a privacidade na internet com certeza é um assunto que tem muito pano pra manga e não vai deixar que a gente sossegue até que o equilíbrio entre o desenvolvimento tecnológico e a proteção de dados seja alcançado.
 
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Por Júlia Bossardi Premaor

Publicado em 18/03/2022 às 11:04

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