23/12/2021

Retrospectiva do Spotify e a relação com a proteção de dados

Todo final de ano, a plataforma do Spotify disponibiliza para seus usuários uma retrospectiva dos gêneros musicais mais ouvidos por você nos últimos 365 dias e, ingenuamente, todos começam a compartilhar em suas redes sociais, com orgulho, quais as suas bandas preferidas. Mas o que isso tem a ver com proteção de dados? Será que nós temos a real noção sobre como essas informações são captadas e utilizadas? 

Muito além disso, o que mais o nosso gosto musical pode dizer sobre nós? O Spotify não é bobo nem nada, com certeza essa não é a única informação que ele consegue traduzir sobre nós a partir do que escutamos.

Todo mundo sabe que a nossa personalidade está diretamente ligada aos nossos gostos e que eles determinam certos padrões de comportamento que podem ser muito lucrativos para o Spotify e bastante prejudiciais a nós.

Identificar que você sempre escuta aquela playlist “academia é para os fortes” todos os dias no mesmo horário, se você não tem um estranho hábito de ouvir música de academia enquanto dorme,o aplicativo acertadamente vai identificar que você é mais propenso a comprar um tênis da Nike ou uma camiseta da Adidas.

Brincadeiras à parte, outro exemplo mais crítico seria identificar aquela pessoa que está há meses escutando sempre a mesma playlist melancólica, cujo nome não é nada discreto, “músicas para chorar”, pela qual é possível presumir que a pessoa pode estar desenvolvendo quadro depressivo. Também podemos pensar naquela pessoa que frequentemente escuta músicas gospel, cuja retrospectiva pode dizer muito sobre suas escolhas religiosas. Note que tanto os dados de saúde (possível depressão) quanto de convicção religiosa, são considerados sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados e merecem maior atenção.

Não só isso, o Spotify não é a plataforma mais segura para depositar seus dados. Recentemente, ele sofreu alguns ataques a sua base de dados que comprometeram cerca de 300 mil contas na primeira vez e mais 100 mil contas no último incidente. Nesses casos as informações vazadas foram as credenciais de logins dos usuários, bem como outras informações de cadastro, gênero, país de origem e sabe-se lá quais outras.

Veja que, de uma brincadeira que parte de uma retrospectiva do Spotify, podemos identificar várias repercussões principalmente pelo fato de que nós, inconscientemente, estamos revelando dados sensíveis sobre nós e que talvez nem seja possível estimar possíveis prejuízos a partir disso. 

No caso específico da retrospectiva do Spotify, caso você resolva compartilhar suas preferências musicais, opte por aquelas que são mais genéricas. Em vez de você publicar suas “top songs”, publique que você “ouviu 121 gêneros diferentes esse ano” ou que você “ouviu 46.334 minutos de música”.

Por isso, o que se pode fazer é sempre prezar pela sua segurança e, antes de publicar informações sobre seu gosto musical ou qualquer outro, pensar criticamente acerca das possíveis repercussões dessa prática. Além disso, é essencial não compartilhar senhas entre plataformas e, se possível, optar pela autenticação de dois fatores.


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Por Júlia Bossardi Premaor

Publicado em 23/12/2021 às 07:15

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