14/11/2021

Os bastidores do corretor automático

Já falamos aqui no Digiálogos sobre como nossos celulares absorvem informações do ambiente, fornecidas por nós ou não, até ao ponto de desconfiarmos se eles realmente estariam nos espionando.

Dessa desconfiança, também surgem algumas questões sobre outras facilidades dos nossos smartphones e a relação delas com a nossa privacidade.

Os teclados são exemplo disso. Você já parou para pensar em como ele consegue adivinhar exatamente o que você vai digitar em seguida? Ou em como ele consegue corrigir nossas palavras automaticamente?

Talvez sejam perguntas que nunca sequer passaram pela sua cabeça, já que, inconscientemente, usamos o teclado no nosso dia-a-dia de forma automática sem prestar maior atenção sobre isso.

Hoje os teclados são grandes fontes de informações e possuem complexos algoritmos de previsão de escrita e autocorreção, por isso há muito tempo deixaram de ser uma simples ferramenta de digitação.

Para poder apresentar ao usuário opções intuitivas de escrita ou, até mesmo, conseguir ler a nossa mente, os desenvolvedores dos aplicativos de teclados precisam armazenar uma imensidão de informações para traçar padrões de digitação e, então, cumprir com a "melhor" experiência do usuário.

Nesse ponto você já deve estar pensando em quantas coisas você escreve no seu celular todos os dias como senhas bancárias, informações de logins, pesquisas de compras e outras informações muito mais íntimas.

O Gboard, teclado da Google, por exemplo, estima ter 1 bilhão de usuários. Então, é só fazer a conta de quantos dados são coletados a cada minuto. É claro que isso coloca o usuário em posição de alta vulnerabilidade.

Hoje parece que virou moda ser alvo de ataques hackers e de vazamentos de dados e com os teclados dos nossos celulares não poderia ser diferente.

Em dezembro de 2017, o aplicativo Ai.type teve dados de mais de 31 milhões usuários vazados na rede. A SwiftKey., da Microsoft, também não escapou dessa moda quando apresentou falhas de segurança relacionadas à sincronização pela nuvem. Além desses, o aplicativo do teclado da Samsung também foi alvo de ataques, afetando aproximadamente 600 milhões de aparelhos.

Se por um lado a ausência do teclado pode prejudicar totalmente as funcionalidades do celular, por outro a gente se vê obrigado a usá-los já que se tornaram essenciais à usabilidade dos nossos smartphones inclusive sendo instalados automaticamente em sua versão de fábrica.

Além disso, quanto mais diversificadas são as facilidades propostas por essas ferramentas, como a permissão para acessar a rede de internet, na pretensão de procurar Gifs e emojis ou para indicar correções automáticas das palavras e identificação do conteúdo copiado na área de transferência, maior é a vulnerabilidade dos usuários.

Por isso, fique de olho nas permissões desnecessárias que o aplicativo do seu teclado pode ter solicitado, como acesso ao GPS ou à câmera. Sempre prefira teclados que atuem 100% offline, como forma de limitar o acesso de terceiros às informações digitadas por você.

O que se deve ter em mente é que estamos sim propensos à vigilância constante, mas o conhecimento sobre isso já reduz, mesmo que parcialmente, o risco à violação da nossa privacidade.


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Por Júlia Bossardi Premaor

Publicado em 14/11/2021 às 15:55

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