11/02/2023

Qual é o preço da privacidade?

Certos reality shows possuem uma logística bastante curiosa: confinar uma quantidade de participantes em um local para serem vigiados e transmitidos 24 horas por dia e, no caso do Big Brother Brasil, ainda concorrem a um prêmio milionário por isso. Quem diria que isso poderia render alguma coisa?
 
O cenário em que os participantes do BBB são submetidos sem acesso às informações do exterior faz referência ao contexto criado na obra literária 1984, do escritor George Orwell. No livro, os personagens são constantemente vigiados por câmeras pelo “Grande Irmão” líder supremo, em evidente crítica aos governos totalitários da época.
 
No ar há 23 anos, o BBB não visa à crítica da sociedade, mas sim a explorar a privacidade e a imagem dos participantes para gerar entretenimento e, então, ganhar dinheiro. Certo é que a casa mais vigiada do Brasil sempre conquista cada vez mais fãs na mesma proporção de “haters” em suas diferentes edições. Nos últimos anos, a produção do BBB injetou uma boa quantidade de inovação ao apostar na mescla de famosos e anônimos na casa, além da inclusão múltiplas plataformas para visualização do show e diversos formatos de comerciais para mídia e conteúdo, como por exemplo a live commerce, estruturando um plano comercial de peso.
 
Tornar o zé ninguém um milionário. Todo mundo adora uma história de superação, mas a que preço? No caso do BBB, além do prêmio final, os brothers ganham um cachê para cada semana que ficam na casa, um salário mensal, além do valor do contrato de cessão de uso de imagem e voz, e outros dindins vindos de ações publicitárias e desafios propostos durante os três meses de confinamento.
 
Relembrando alguns “cases” de que o BBB não está para brincadeira, a atriz Grazi Massafera, que ficou em 2º lugar na edição do programa em 2005, e a Sabrina Sato, que participou da edição em 2003, estão entre as mulheres mais ricas do Brasil. Já para se ter uma noção, a Juliette, grande vencedora da penúltima edição, agora cobra R$ 400 mil para anunciar uma marca em seus stories no Instagram. Ora, o que é a privacidade e a imagem perto dessa grana toda?
 
Nunca antes na TV brasileira conhecer a privacidade mais íntima das pessoas tinha sido tão lucrativo e o BBB, nos últimos anos, demonstrou ser um grande negócio, além de uma tendência econômica mundial. Os números não mentem: na última edição foram mais de 150 milhões de espectadores e a arrecadação deste ano já contabiliza R$ 1 bilhão em patrocínios para o bolso do programa mais amado e odiado do Brasil.
 
Mas não só isso, a última edição atingiu o ápice do “hype” nas redes sociais, sendo o conteúdo mais compartilhado e o maior programa em tweets do mundo. Muitos até brincam que acabam vendo o reality só pelos memes, fofocas e polêmicas compartilhadas na internet, já que do período de janeiro a maio só se fala disso. O poder de influência digital que o BBB tem carregado é astronômico impactando diretamente nas condutas das pessoas e provocando os patrocinadores a pagarem sempre mais quantias milionárias para colocar sua marca dentro da casa mais vigiada do Brasil.
 
Não tem como negar que a privacidade e a imagem dos outros como entretenimento faz muito dinheiro, principalmente porque a tendência evidenciada pelo BBB não é um caso isolado de sucesso. Assim, falem bem ou falem mal, o dinheiro continua caindo na conta e essa economia continua crescendo.
 
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Por Júlia Bossardi Premaor

Publicado em 11/02/2023 às 19:04

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